Nascida na cidade de Salvador, em 1930, e falecida em 2014, Anna Amélia Vieira Nascimento foi historiadora e ex-diretora do Arquivo Público do Estado da Bahia. Em sua longa trajetória intelectual, a pesquisadora foi atuante na preservação da memória, restauração de monumentos e de acervos documentais do estado baiano. A doação de parte de seu acervo pessoal traz à biblioteca Carolina Maria de Jesus uma parcela significativa dos títulos que acompanharam sua carreira.
Os livros, revistas e anotações doados pela família da historiadora estão relacionados, em sua grande parte, a história e economia da sociedade colonial baiana, ao comércio, agricultura e a vida religiosa nos conventos. Estes materiais são importantes fontes de informação e de pesquisa sobre a vida baiana, em especial, durante os séculos XIX e XX.
Dentre as dezenas de livros recebidos, destacam-se alguns volumes publicados pela própria historiadora. São eles: Letras de Risco e Carregações no Comércio Colonial da Bahia (Salvador: Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, 1977); A Quinta do Tanque – um monumento a serviço da cultura da Bahia (Salvador: Gráfica Central, 1980); Patriarcado e Religião – As Enclausuradas Clarissas do Convento do Desterro da Bahia 1677 – 1890 (Bahia: Conselho Estadual de Cultura, 1994).
Com muito amor para com a cidade de Salvador e suas raízes seu trabalho de pesquisa levou a historiadora ser eleita para ocupar a cadeira de nº 3 da Academia Baiana de Letras. Seu discurso de ingresso, realizado em 22 de março de 1992, apresenta este carinho:
“Neste dia, para mim tão caro, quando venho alcançar a posição almejada no íntimo do coração, gostaria que esse recinto assumisse a magia eterna da Cidade do Salvador, onde nasci, onde cresci, e que aprendi a amar com totó o seu misterioso encanto. O vento morno, a brisa e os afagos do mar sempre presentes, os poentes de cores cambiantes, que se refletem um pouco em cada parte, o misticismo entranhado do seu povo, que se alterna entre os cânticos sacros e centenários das igrejas, e a fascinação pelas magias dos batuques no meio da noite, porque hoje é a minha festa, a minha entrada nesta casa.”
A autora inicia sua formação acadêmica no curso de História e Geografia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, mestrado em História Social em Amiens, França, e doutoramento , em 1978, na École de Hautes Études em Sciences Sociales. Nascimento foi a primeira mulher a se tornar diretora do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), em 12 de julho de 1979. Desde a criação do órgão, no ano de 1890, este arquivo mantém a custódia de importantes documentos da memória nacional, não apenas do período ligado à sua criação, mas, sobretudo pelo histórico da cidade de Salvador, e o período em que a capital baiana foi sede do Governo-Geral do Estado do Brasil (1549-1763). Lá se encontram documentos, raros registros e manuscritos originais produzidos durante o período colonial, além de documentos oficiais da coroa portuguesa.