Maurino de Araújo, um herdeiro ancestral

03 de agosto de 2020
Mais um artista que se foi para encontrar o silêncio profundo. Ele tinha a alma de uma criança ingênua, cheio de perplexidade e humildade, mas era um gigante quando esculpia. Sabia, como ninguém, entalhar a madeira, era como um toreuta dos tempos antigos do barroco mineiro, e tinha também a mestria de fazer pequenas obras – anjos e querubins que executava com uma delicadeza religiosa.

Era um artista sofisticado e sua produção escultórica trazia essencialmente uma dose de elegância e a busca intuitiva de se expressar como um mestre do barroco.

Sempre vi nas esculturas sacras de Maurino de Araújo, o quão eram impregnadas de uma profunda raiz mineira e isso emanava de sua alma ancestral e afro-brasileira, daqueles africanos já habituados a traduzir formas e ritmos e que foram os artífices de Antônio Francisco Lisboa, o grande artista do barroco e do rococó de Minas Gerais.

Sua obra escultórica era expressa com grande originalidade, fosse porque ele ia muito além de uma representação simplista e suas figuras sacras eram criadas com uma certa dose de humanidade terrena, cheias de drama e que expressavam o seu lado profano, ou fosse porque na sua talha havia uma aproximação formal e geométrica acentuada pelo colorido rebaixado dos amarelos e vermelhos, ocres e azuis, uma espécie de textura, uma dramaticidade formal expressa também pela cor. Suas figuras de santos ou santas, de Cristos ou Nossas Senhoras estavam impregnadas de um expressionismo dramático que dotavam suas obras de uma força extraordinária.

Algumas vezes estive com ele em sua humilde casa abarrotada de madeiras. Era um lugar muito pobre, numa ladeira de um bairro também muito pobre... seu abandono era injustificado. Tão grande artista que foi, e toda sua extensa obra. Um legado construído pela vida afora.    

 
Emanoel Araujo
Diretor e Curador do Museu Afro Brasil

 



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