Mãe Menininha

Maria Escolástica da Conceição - Mãe Menininha do Gantois (Salvador, BA, 1894 – 1986)


 Maria Escolástica da Conceição Nazareth foi a mãe de santo brasileira que liderou a casa de candomblé Ilé Ìyá Omi Àse Ìyámasé, localizada em Salvador (BA), no bairro do Gantois, por sessenta e quatro anos. Mãe Menininha do Gantois, como era chamada, tornou-se conhecida e respeitada nacionalmente por sua bondade e carinho para com seus filhos de santo e amigos da casa. Sua luta pela legalização da religião dos Orixás e a consequente integração desta religião na sociedade nacional também a fez respeitada por todos. 

Mãe Menininha nasceu dentro de sua casa de candomblé. Ela é bisneta da nigeriana Maria Julia da Conceição Nazareth, fundadora do terreiro do Gantois, e sobrinha-neta da mãe de santo Pulchéria Maria da Conceição, que lhe iniciou na religião e lhe cunhou o apelido de “Menininha”. Maria Escolástica dançava o candomblé desde os seis anos e foi iniciada para Oxum aos oito. O modo como respeitava e levava a serio a sua religião chamava a atenção de Mãe Pulchéria, que via na pequena o potencial para liderar. 

Após a morte de Mãe Pulchéria, houve grande disputa pela liderança da casa, já que a sucessora, Maria da Glória Nazareth, mãe de Menininha, morreu antes que se completassem as tradicionais cerimônias de luto pela morte de Pulchéria. Na casa de candomblé do bairro do Gantois, a passagem da liderança, exercida pelas mães de santo, é realizada obedecendo a linhagem das mulheres que remonta à Maria Julia da Conceição Nazareth, fundadora da casa. Menininha, apesar de ser a natural sucessora, tinha apenas 26 anos e não quis se envolver na disputa, por isso se distanciou da casa, apesar do apelo de algumas irmãs. A disputa teve fim em 18 de fevereiro de 1922, quando os Orixás escolheram Menininha para ocupar o cargo de nova mãe de santo da casa. Ela contava a idade de vinte e oito anos. 

Antes e durante o exercício da liderança da casa, Menininha trabalhou como costureira, bordadeira e também quituteira. Naquele tempo não era nada fácil comandar uma casa de candomblé, haja vista a perseguição que a religião sofria das autoridades baianas. Menininha, no entanto, soube valorizar a religião e integrá-la na sociedade baiana, obtendo a licença para o culto aos Orixás em 1930. O marido, Álvaro MacDowell, advogado, também teve forte influência e prestou grandes contribuições à luta pela defesa do candomblé e dos membros da comunidade. Apesar de não possuir um cargo religioso na casa, auxiliava no terreiro e atuava como ponte entre o Gantois e a sociedade. 

Enquanto Mãe Menininha existiu, seu endereço no bairro do Gantois foi um dos locais mais visitados de Salvador, inclusive por autoridades politicas da Bahia, de outros estados do Brasil e do exterior. Apesar de não serem filhos de santo da casa, eram amigos muito próximos de Mãe Menininha, Jorge Amado, Carybé, Camafeu de Oxóssi, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Dorival Caymmi. O último inclusive compôs uma bela e conhecida canção em louvação a Menininha.

Ai, minha mãe
Minha Mãe Menininha
Ai, minha mãe
Menininha do Gantois

A estrela mais linda, hein? Tá no Gantois
E o sol mais brilhante, hein? Tá no Gantois
A beleza do mundo, hein? Tá no Gantois
E a mão da doçura, hein? Tá no Gantois

O consolo da gente, hein? Tá no Gantois
E a Oxum mais bonita, hein? Tá no Gantois

Olorum quem mandou
Essa filha de Oxum tomar conta da gente e de tudo cuidar.
Olorum quem mandou ô ô... Ora iê iê ô...

Ora iê iê ô... Ora iê iê ô...

Mãe Menininha faleceu em 1986 aos 92 anos. Deixou como sucessora do comando da casa sua filha mais velha, Cleusa, que após a morte foi sucedida por sua irmã Carmen. O enterro de Mãe Menininha foi uma das procissões mais grandiosas da Bahia. Todos choraram a morte de uma das mulheres mais queridas do Brasil.

Saiba mais +

Fontes e Referências 


Foto:
Madalena Schwartz / Instituto Moreira Salles 

Bibliografia:
AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. Desenhos de Carlos Bastos. 27ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1977.

ECHEVERRIA, Regina e Nóbrega, Cida. Mãe Menininha do Gantois: uma biografia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

Periódicos:

Jornal da Tarde, 14 de agosto de 1986
Jornal Folha de São Paulo, 14 de agosto de 1986.
Jornal O Estado de São Paulo, 9 de fevereiro de 2007
Jornal O Estado de São Paulo, 13 de fevereiro de 2007
Jornal O Estado de Sâo Paulo, 21 de fevereiro de 2007.
Revista Carta Capital, 12 de junho de 2002.



 




BUSCA

O Museu está aberto o ano todo, com exceção das seguintes datas:

  • 24 e 25 de dezembro
  • 31 de dezembro
  • 1º de janeiro