Irmãos Timotheo e os Salões de Bellas Artes

O principal evento artístico do Brasil na virada do século XIX para o XX eram os Salões Gerais de Belas Artes, evento criado por Félix Émile Taunay em 1840 e realizados no prédio da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, então capital federal. O evento ocorria no mês de setembro e contava com pinturas, esculturas, gravuras e desenhos de artistas nacionais e estrangeiros, que concorriam a prêmios, conferidos pelo júri formado por três membros do conselho superior de Belas Artes. Os críticos também compareciam ao evento para desferirem, nos jornais do dia seguinte, suas análises e julgamentos. 
Alunos formados pela Escola Nacional de Belas Artes, os Irmãos Timotheo tiveram participação constante no evento desde 1905. Nos Salões de Belas Artes, Arthur e João expunham as obras realizadas ao longo do ano, os estudos e também suas principais pinturas. Os dois irmãos receberam as mais importantes premiações do evento, inclusive o prêmio maior de viagem ao exterior, conferido a Arthur Timotheo em 1907, primeiro negro a receber tal premiação. João, por sua vez, compôs o júri de pintura do evento em 1925. 

1905 – Pela primeira vez os irmãos Timotheo participam da exposição. João Timotheo enviou o retrato do Poeta J. Abreu Albano e Arthur duas paisagens, (Diante do modelo e Repreensão). Não houve grande destaque, por parte da crítica, embora tenham sido notados como boas promessas futuras.

“J. Thimotheo da Costa estreia com um excelente retrato do poeta J. Abreu Albano.” 
“A. Thimoteo da Costa revelam também habilidade prometedora.” 
(Em “O Paíz“ / V. V. O SALÃO. O Paiz, Rio de Janeiro, 9 set. 1905, p.2.)
  
1906 – As duas pinturas que Arthur Timotheo exibiu na sua segunda participação no Salão, Cabeça de negro e Livre de preconceitos, causaram boa impressão e o artista recebeu inúmeros elogios da crítica. Foi conferido destaque especial ao quadro Cabeça de Negro (que hoje compõe a coleção deste Museu Afro Brasil), enquanto Livre de preconceitos rendeu-lhe menção honrosa de primeiro grau. João Timotheo da Costa, por sua vez, expôs três Retratos, um deles agraciado com a menção honrosa de segundo grau. 

“Thimótheo da Costa [Arthur Timótheo da Costa], que tem mais talento d [sic] que idade, quis apenas um golpe nesse preconceito tolo que a civilização criou - o vestuário. O seu quadro é a apologia da nudez.” ( Autor: O. N em O Correio da Manhã, 9 de setembro de 1906)

“Seu irmão J. Timotheo da Costa expõe também três Retratos de fatura apreciável, com que obteve menção honrosa de 2º grau. Esperamos vê-lo em trabalhos mais fortes, pois tem queda manifesta para isso e há de atingir o seu fim.” (Bueno Amador em Jornal do Brasil, 26 de setembro de 1906).

1907 – Arthur Timotheo torna-se o primeiro negro a receber o prêmio máximo de Viagem ao Exterior (leia-se Paris) com o quadro Antes do Aleluia, depois de Eduardo Bevilacqua não aproveitar bem o prêmio que havia sido lhe concedido no ano anterior. João Timotheo, no entanto, não teve bom retorno da critica com o seu retrato de João do Rio, embora tenha recebido do júri menção honrosa de segundo grau, igual à do ano anterior.

“Como se vê desta simples exposição, o assunto presta-se admiravelmente a um belo quadro de gênero, e o fato de ter o jovem artista [Arthur Timotheo] tomado para tema, explica-se naturalmente por proporcionar-lhe elementos para mostrar o seu saber técnico.

Na sua aparente facilidade não há nada mais difícil do que pintar um bom quadro de gênero, porque, em geral, nesse ramo de pintura, o assunto tem menos importância do que a maneira como ele é tratado.” (em Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 8 de setembro de 1907).

1908 – Arthur Timotheo não expôs, por estar em Paris, mas seu irmão mais velho, João Timotheo, conseguiu grande destaque com o quadro O Sonho. 
“Timotheo da Costa [João Timotheo da Costa], o simpático pintor, expõe um ousado nu - Sonho, que a par de pequenas indecisões apresenta qualidades extraordinárias.” (Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1 de setembro de 1908).

1912 – Recém-retornados da Europa, tendo Arthur residido em Paris e ambos participado da decoração do Pavilhão brasileiro da Feira Internacional de Turim, exibiram uma pintura cada um. João causou boa impressão e exibiu maturidade com Trabalhando, enquanto Arthur expôs O Idilio, já exibido e elogiado em exposição que realizou logo ao retornar à capital federal.

“O Sr. Arthur Thimotheo fez-se representar apenas pelo seu belo quadro Idílio, que na atual exposição, bem colocado e em mais favoráveis condições de luz, melhor mostra as suas boas qualidades, podendo-se mais francamente apreciar o seu incontestável valor.” (Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1912).

Em pintura o Sr. João Timotheo da Costa apresenta uma tela, Trabalhando, bem tocada como estudo de impressão. (Bueno Amador, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1912).

“João Timotheo traz ao "salon" um pequeno quadro de gênero "Trabalhando" (131) imaginado com muita felicidade, e desenhado com bastante segurança.

O contingente dos irmãos Timotheo da Costa é mais uma vez muito apreciável.” (Gonçalo Alves, A Noite, Rio de Janiero, 30 de setembro de 1912). 

1913 – Arthur recebe pequena medalha de prata com a pintura “O dia seguinte”.

1915
– Arthur teria ganho a pequena medalha de ouro, segundo o texto de Virgilio Mauricio ( Será???)

1919 – João teve destaque com a tela “Aprendiz”, um dos vencedores de medalhas, assim como Arthur, que ganhou a grande medalha de prata.

1920 – João Timotheo é festejado pela critica com o seu Auscultando (quadro que faz parte do acervo deste Museu Afro Brasil) e recebe a pequena medalha de ouro. Arthur também obtêm destaque com três paisagens, sendo uma delas elogiada pela crítica e vencedora da grande medalha de ouro (Teixeira):

“Arthur Thimotheo da Costa tem três quadros de paisagem na sua maneira larga, profusamente iluminados de sol, um principalmente, o denominado “Efeito de sol”, de violenta impressão é dos quadros que mais atraem os olhos dos visitantes na exposição”. (Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 20 de agosto).

1921 – Última participação de Arthur Timotheo no Salão Geral antes de sua morte em 1922. O artista expõe um quadro chamado Alguns Colegas, que divide a crítica. 

“como são magníficos os quatro trabalhos desse consciencioso artista que é Arthur Timotheo, principalmente o conglomerado de alguns colegas, cada um deles tratado com os recursos de que dispõe Timotheo, que lhes deu um caráter próprio e inconfundível. João Timotheo tem uma Cabeça excelente, e fez um assunto histórico muito bem tratado” (O Paiz, Rio de Janeiro, 26 de agosto de 1921).

“ARTHUR [Arthur Timotheo da Costa] e JOÃO TIMOTHEO apresentam-se regularmente bem. Os trabalhos apresentados não dão, entretanto, ideia do quanto os artistas são capazes” (Illustração Brazileira, Rio de Janeiro, agosto de 1921).

1923 – João Timotheo realizou exposição de um conjunto de pinturas, todas paisagens, que causaram boa impressão. Foi exposto um trabalho inacabado de seu irmão Arthur chamada Retrato de Sylvia Meyer, homenagem póstuma ao artista falecido no ano anterior. 

“JOÃO TIMOTHEO está bem representado, as suas telas são interessantes e revelam evolução. Completa a sua contribuição o envio de uma tela pintada por seu irmão Arthur [Arthur Timotheo da Costa] já falecido o “Retrato de Sylvia Meyer”, uma verdadeira joia.” (Illustração Brasileira, Rio de Janeiro, setembro de 1923).

1925 – João Timotheo não apresentou trabalhos, pois fez parte do júri de pintura do Salão.

1926 – João Timotheo tem quatro pinturas expostas no salão e mais uma vez suas obras são bastante elogiadas, principalmente o quadro No atelier.
 “Ainda uma pequena medalha de ouro, o Sr. Timotheo da Costa (João). Dos seus quatro trabalhos, há uma amostra muito forte, de grande perfeição. “No atelier”, quase igualada pelo “Estudo de tronco”, outro trabalho, também, que agrada aos exigentes.” (O Jornal, Rio de Janeiro, 13 de agosto 1926).

1929 – João Timotheo expõe no Salão pela última vez antes de sua morte, ocorrida em 1932. 



Página da Internet:
http://www.dezenovevinte.net/

Bibliografia:
- LEITE, José Roberto Teixeira. Pintores Negros dos oitocentos. Editor Emanoel Araújo. São Paulo: Edições K: Motores MWM Brasil, 1988.
- COSTA, João Angyone. A inquietação das abelhas. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello e Cia. 1927.
- ARAÚJO, Emanoel (org). A Mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. São Paulo: Imprensa Oficial: Museu Afro Brasil, 2010.