Antônio Firmino Monteiro - Comentários Críticos

No cultivo da sua arte, tentou a paisagem, a pintura histórica e a de gênero. A sua feição primordial, porém, foi a de paisagista, aliás, aquela em que se revelara em primeiro lugar.

 "Tinha Monteiro inato o sentimento da perspectiva aérea, razão porque observa, em todas as suas paisagens, uma perfeita harmonia entre a terra, o céu e o ar: pintava-as todas ao natural, levando para o campo as telas definitivas, que raríssimas vezes retocava, pois, no momento de o fazer, sentia certa repugnância, pelo receio de afastar-se da verdade."

A despeito dos tons de academicismo de que se revestia a sua paleta da primeira fase, não se podia deixar de sentir, em todas as suas paisagens, um quê de melancolia, de suavidade e de sentimento, que outra coisa não era, senão aqueles traços instintivos de sua psicologia, ungida sempre de ingênita tristeza.

Na maioria, senão na totalidade de suas paisagens, é possível e mesmo certo, em algumas, se nos depararem traços de dureza, deficiências de desenho e outros defeitos, mas, o que nelas sempre alcançou o artista foi reproduzir a verdade, através do prisma de grande sentimento.

Senão inteiramente sacrificadas, porém, em grande parte prejudicadas, ficaram essas primitivas qualidades, quando o paisagista, animado com o inesperado sucesso do seu quadro A fundação da cidade de São Sebastião, obra elogiada «com mais complacência que justiça», abandonando a especialidade que, com tanta aptidão, cultivava, se iniciou, impensadamente, pelo caminho duvidoso da pintura histórica.

In: FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil: de 1816-1916. Rio de Janeiro: Röhe, 1916.