O Surgimento do Modernismo nas artes brasileiras



Geralmente se relaciona o modernismo à Semana de Arte Moderna que ocorreu em São Paulo em 1922. Mas, pelo menos oito anos antes, em Maio de 1914, Anita Malfati (1889-1964) faria uma exposição que, juntamente com outra de 1917 mudariam o cenário artístico brasileiro para sempre, sendo principalmente esta última a exposição pré-fundante da arte moderna. Ainda em 1915 a artista iria estudar com Homer Boss (1882-1956), de influência expressionista, na Independend School of Arts de Nova Iorque. Segundo a artista, o professor Boss fazia seus alunos “pintarem ao vento, pintarem sob o sol, na chuva, na neblina”, deixando-os livres para fazer experimentações de formas e cores (UDELL,S. 1994, p.18).

Na literatura a herança impressionista já havia afastado certas almas astutas de todo o parnasianismo e que fizeram a transição do simbolismo ao modernismo. Não podemos deixar de lembrar de figuras como o negro Lima Barreto (1881-1922) que, já a partir de 1911, em apenas seis anos, ele inaugura, por assim dizer o “pré-modernismo” ou por que não falar de modernismo literário brasileiro mesmo, já que a presença de um regionalismo contundente é questionável ao modernismo mais universalizante? Barreto nos presenteou modernamente, portanto, com o seu “O Homem que Sabia Javanês”, que foi seguido pelo clássico “Triste Fim de Policarpo Quaresma” (1915) e este por “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” (1917). Quando, nesse mesmo glorioso ano de 1917 apareceram “A Cinza das Horas” de Manouel Bandeira, “Há uma Gota de Sangue em Cada Poema”, o “Juca Mulato” de Menocchi Del Piccia, ou mesmo depois da “Semana”, da fundação da “Revista Klaxon”, ou do aparecimento do próprio Manifesto Pau- Brasil o “estrago” já havia sido feito. Assim, mesmo se não tivéssemos tido a “Semana” enquanto um movimento artístico inaugural do modernismo, nós já teríamos tido afinal o Modernismo enquanto uma experiência estética distinta.

Ao voltar da Europa em 1912 e com a cabeça já cheia de ideias, Oswald de Andrade começou a divulgar algumas novas noções cubistas e futuristas com as quais tinha tido contato no velho mundo. Lasar Segall também havia feito uma individual em Campinas em 1913, é verdade, mas por ter retornado à Europa e voltando ao Brasil apenas em 1923, com influências do expressionismo alemão, ele ficou à parte deste quadro inicial da formação do modernismo brasileiro. Brecheret também só voltou ao Brasil nas vésperas da Semana de Arte Moderna, sendo agraciado com a encomenda do Governo de São Paulo com a monumental “Monumento às Bandeiras” (1921), Parque do Ibirapuera (SP). Ainda quatro anos antes da “Semana” quando o jovem de 21 anos Di Cavalcanti (1897-1976) ainda finalizava o curso de Direito no Largo São Francisco, Tarsila do Amaral (1886-1973), já estava com 32 anos e ambos estudaram pintura em São Paulo com o alemão de influência impressionista George Fischer Elpons (1865-1939).

Estava formado, então, o suprassumo do que a semana de arte de 1922 podia trazer em termos das artes plásticas e nas outras artes: derrubar a orientação acadêmica, chocar o tradicionalismo, fazer ressurgir o nacionalismo que não tinha nada que ver com aquele da declaração de independência de cem anos antes, nem o do Republicanismo de 30 anos anteriores, mas o da liberdade linguística e estética em relação aos padrões impostos desde o império da língua portuguesa, ruptura com a estética parnasiana e com a empolação inerte dos acadêmicos, versos livres, coloquialismo; surge a linguagem das ruas, a do indigenista, a do negrismo (embora este mais timidamente, já que ignorado ou mesmo desconhecido pela elite paulistana), numa palavra surge a irreverência artística. Enfim, a tendência na ampliação gradual ao geometrismo que apareceu também nos “Semanistas”  Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) e em Antônio Gomide (1895-1867) redundará na formação da tradição concreta brasileira que aparecerá na segunda e terceira gerações de modernos.

Fontes de pesquisa:

UDELL, Susan. S. Homer Boss: The Figure and the Land – The Legacy of Homer Boss, na Independent Artis. 1994. p. 18 e ss.

AMARAL, Aracy. Artes plásticas na Semana de 22. 2.ed.rev. São Paulo: Perspectiva, 1972

ANDRADE, Mário de. O Movimento Modernista. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1942.

BOPP, Raul. Movimentos Modernistas no Brasil. Rio de Janeiro: Livr. S. José, 1966.

MODERNISMO no Brasil. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo359/modernismo-no-brasil>. Acesso em: 24 de Abr. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7