Milton Almeida dos Santos

(Brotas de Macaúbas, BA, 3 de maio de 1926 – São Paulo, SP, 24 de junho de 2001).

Milton Santos Reprodução de Fotografia Luiz Carlos dos Santos.Filho de Adalgisa Umbelina de Almeida Santos e Francisco Irineu dos Santos, casados em 1924, Milton nasceu na cidade baiana de Brotas de Macaúbas, localizada na região da Chapada Diamantina. Sua mãe era professora e filha de professores enquanto seu pai era professor primário, o que facilitou bastante a educação do filho primogênito do casal. Quando criança, Milton estudou em casa, com os próprios pais, até o primário. Aos dez anos, separou-se da família para ser aluno interno do renomado colégio Instituto Baiano de Ensino, localizado na capital do estado. Residiu no colégio por dez anos. No ginásio, se interessou pela disciplina de Geografia Humana, ministrada pelo professor Oswaldo Imbassay, que marcou a memória do jovem estudante. Aos quinze anos, já se dedicava a ensinar os colegas mais novos.  

Ao terminar os estudos ginasiais, Milton Santos cursou o curso pré-jurídico entre 1942 e 1943, ao passo que em 1944 foi aceito como aluno da renomada Faculdade de Direito de Salvador, formando-se em 1948. Depois de formado em direito, Milton foi dar aula de Geografia Humana para o ginásio no colégio municipal de Ilhéus (BA), cidade aonde veio a casar-se com Jandira Rocha, mãe do seu filho primogênito, Milton Filho. Nesta época, Milton Santos trabalhava também como jornalista, escrevendo para o jornal “A Tarde” como correspondente e depois editor.

Após o casamento, Milton mudou-se com a família para Salvador, onde exerceu cargos públicos e iniciou sua carreira acadêmica tornando-se professor na Universidade Católica em 1956. A partir de contatos estabelecidos quando esteve no Congresso Internacional de Geografia, sediado no Rio de Janeiro, recebeu convite para realizar doutorado na França. Convite aceito, Milton formou-se doutor em geografia pela Universidade de Estrasburgo, França, em 1958, com a tese “O Centro da Cidade de Salvador”, sob orientação do professor Jean Tricart. Nessa época suas pesquisas centravam-se nas realidades locais. 

Ao retornar ao país natal, Santos tornou-se Livre Docente em Geografia Humana pela Universidade Federal da Bahia, em 1960. Um ano depois, foi escolhido como representante da Casa Civil no estado, durante governo do presidente Jânio Quadros. Pouco depois, prestou concurso para lecionar na referida universidade, mas o golpe militar de 1964 interrompeu seus planos e levou-o preso. Na cadeia, recebeu convite para lecionar na França. Assim, Milton seguiu para o exílio em 1964, já separado da sua primeira esposa. Imaginou que ficaria exilado por 6 meses, mas acabou por passar 13 anos no exterior. 

Na França, primeiro destino do seu exílio, Milton conheceu Marie Hélène Tiercelin, também geógrafa, com quem viria a se casar em 1972 e que seria sua companheira pelo resto da vida. Vivendo no exterior, Milton apegou-se a filosofia e empenhou-se em conferir status de filosofia à geografia, ou seja, provar que a geografia também é uma filosofia. Fundamentava, neste empenho, que a geografia é uma “filosofia das técnicas”. 

Milton começou sua carreira no exterior lecionando em Toulouse, depois passou por Bordeaux e Paris, onde lecionou na Sorbonne. Em 1971 seguiu para o Canadá (Universidade de Toronto) e depois para os Estados Unidos, onde foi pesquisador convidado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), trabalhando com o linguista e filósofo Noam Chomsky. Passou ainda pela Venezuela, onde foi diretor de pesquisa e planejamento de urbanização das Nações Unidas (ONU). Datam desta época as pesquisas do geógrafo acerca dos processos de urbanização das cidades do então chamado “terceiro mundo”. Depois, como desenvolvimento deste seu interesse, realizou trabalhos de pesquisa sobre pobreza urbana na América Latina em Lima (Peru), onde também lecionou na Faculdade de Economia da Universidade Central. Na Tanzânia, penúltimo destino antes do retorno ao Brasil, Milton organizou o curso de pós-graduação em Geografia da Universidade Dar-es-Salaam, e lá residiu por dois anos. De volta aos EUA, terminou o longo período de exílio lecionando na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. 

De volta à terra natal em 1977, ano de nascimento de seu segundo filho, Rafael, Milton tornou-se Consultor de Planejamento do estado de São Paulo, depois lecionou como professor visitante na Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1979 e 1983, quando então foi contratado como professor titular da Universidade de São Paulo, onde lecionou até se aposentar, sem nunca deixar de trabalhar.  
O impacto das publicações em português dos livros do geógrafo, que até então só haviam sido editados em outros idiomas, foi enorme. Suas ideias foram responsáveis pela renovação de boa parte dos conceitos e temas debatidos na geografia brasileira. Após voltar ao Brasil, Milton não deixou jamais de produzir, seguiu lecionando e orientando mestres e doutores, ao mesmo tempo em que prosseguiu lançando livros, o que o alçou a uma das mais extensas e densas bibliografias brasileiras, sem dúvidas a maior entre geógrafos latino-americanos.

Deixou como legado mais de 40 títulos publicados em diversos idiomas e mais de 300 artigos e pequenas publicações. Entre outros, podemos destacar: “Por uma geografia nova” (1978), “O espaço dividido” (1978), “Ensaios sobre a urbanização latino-americana” (1982), ”Espaço e Método” (1985) e “A natureza do espaço” (1996). Suas produções mais recentes fundamentaram as principais teorias contemporâneas antiglobalização. Em 2001 foi filmado o documentário “Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto de Cá”, dirigido por Silvio Tendler e lançado em 2006. O filme apresenta por meio de entrevistas alguns dos principais conceitos do geógrafo.


Milton Santos, ao longo de sua exitosa carreira acadêmica, recebeu dezenas de títulos e homenagens no mundo inteiro. São vinte títulos de Doutor Honoris Causa, sendo doze conferidos por universidades brasileiras e oito estrangeiras, além do título de Professor Emérito da USP, recebido em 1997. Dentre as diversas premiações recebidas, merece destaque o prêmio maior da geografia: Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, que o geógrafo recebeu em 1994.

Milton morou em São Paulo desde que passou a ministrar aulas na USP até a sua morte em 24 de junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer. Seu corpo foi sepultado no cemitério da Paz, zona sul de São Paulo. Pelos familiares, amigos e alunos, Milton é lembrado como pessoa serena, de fala pausada, inteligência rara e sorriso fácil. 


Fontes e Referências

Jornal Folha de São Paulo, 25 de junho de 2001. Caderno 1, pp6.
Filme “Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto de Cá”. Silvio Tendler. Brasil, 2006.
Revista caros amigos, n17, agosto de 1998. 
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